7 de março de 2017

Nota pública – esclarecimentos sobre a postura e nota do PSTU em relação a Síria





"Expor aos oprimidos a verdade sobre a situação é abrir-lhes o caminho da revolução." - Leon Trotsky
 
 

Na semana passada fomos informados sobre uma nota do PSTU acerca dos acontecimentos que se desenvolvem no Oriente Médio, mais especificamente na Síria. A nota, a qual deixaremos o link ao final deste texto, tem o título: "Repúdio às difamações sofridas pelo PSTU sobre o tema da Síria" e apresenta um conjunto de argumentos que trataremos um a um. Em que pese as nossas diferenças abissais com a política, a postura e a conduta da militância deste partido, saudamos que tenham feito a opção pelo debate após ensaiarem ameaças veladas.

Desejamos, apenas, que este tipo de coisa jamais se materialize, mas caso optem por essa via, reafirmamos que sabemos e iremos nos defender de modo a evitar o que aconteceu na UERJ no ano passado (http://anovademocracia.com.br/no-149/5880-dirigentes-e-militantes-do-pstu-agridem-ativistas-no-rio-e-um-partido-social-fascista), pra ficar apenas em um dos muitos exemplos da postura, essa sim estalinista, deste agrupamento.

O "morenismo" - corrente política originária de Nahuel Moreno - é uma expressão latino americana de uma tendência que influenciou o trotskysmo na década de 1950 e que se espatifou na fragmentação política imposta pelos próprios seguidores de Trotsky a si mesmos. Sua manifestação atual no Brasil se encontra em algumas organizações dispersas principalmente no PSOL (através de correntes) e no PSTU (também através da sua infinidade de rachas).

Não é exatamente nova a postura política do morenismo diante do cenário político internacional, seja lá atrás desde a queda do muro, quando comemoraram as "revoluções" que derrubaram os Estados operários do leste, seja no atual cenário internacional que nos encontramos. A sucessão de bizarrices, posturas intransigentes, abandono de princípios, nos faz duvidar profundamente se estamos diante de uma corrente que se equivoca frequentemente, ou de agrupamento totalmente adaptado aos interesses imperialistas.

Líbia, Ucrânia, Síria, Cuba, Venezuela, Bolívia etc são apenas alguns exercícios da ridícula posição política adotada por estes atores. Mais do que isso, o PSTU e seus congêneres cumprem uma dupla função na luta política contra os revolucionários: a) confusão política entre um pequena parcela da vanguarda a qual influencia; b) a cobertura de "esquerda" para o projeto conservador/imperialista.

Trataremos então os principais aspectos da nota do PSTU a partir de agora.

1 - A nota escrita pelo PSTU aponta em seu segundo parágrafo: "O conflito na Síria é uma consequência da chamada "Primavera Árabe" (onda de revoluções democráticas nos países do Norte da África e Oriente Médio, que derrubaram ditaduras sanguinárias como o governo de Mubarak, no Egito, e Gaddafi, na Líbia) e se tornou mais dramática nos últimos meses com a retomada da cidade de Alepo (Norte da Síria) sob os corpos de milhares de pessoas, entre homens, mulheres e crianças." (Grifo nosso)

Neste parágrafo ensinaremos ao PSTU que as leis da dialética marxista, enquanto ferramenta política de interpretação da luta de classes, costuma ser cruel com automatismos e dogmatismos. Em 2011 a região atravessou um profundo período de mudanças que a desestabilizou por uma série de fatores. Todos os regimes foram questionados por uma formula explosiva que combinava três fatores comuns nos distintos países: a) anos de regimes autoritários; b) acesso a novos aparelhos celulares e as mídias como facebook, youtube e etc; e c) uma imensa quantidade de jovens. Alguns desses regimes não conseguiram conter a ascensão das amplas massas e foram derrubados como Hosny Mubarak no Egito e BenAli na Tunísia. Mas algumas dessas mudanças, diríamos inclusive a maioria delas, não trouxeram as expectativas das amplas massas por mais liberdade, mais abertura e mais participação política.

Portanto, de modo contraditório e cheio de percalços, os processos que comumente chamamos de "Primavera Árabe" não foram movimentos homogêneos, claros e objetivos como tentam simplificar a esquerda pequeno-burguesa. Parte dessas mobilizações foram, inclusive, canalizadas para garantir o projeto imperialista de (re) dividir a região (um novo Sykes-Picot), fortalecendo a posição dos aliados sauditas e sionistas no Oriente Médio. (Indicamos ao PSTU, a seguinte leitura sobre dialética, FONTE: https://www.marxists.org/portugues/lenin/1915/mes/dialetica.htm )

De certo que o PSTU se orgulha com o que acontece atualmente na Líbia onde o CNT (Conselho Nacional de Transição), após empalar Muamar Gadafi (isso mesmo, Gadafi sequer teve um direito a julgamento nas mãos das forças "democráticas" e "moderadas" com as quais se relaciona o PSTU) quebrou o país no meio, aprofundando a luta sectária e destruindo aquela que era a nação de maior IDH no continente africano. A retomada e inversão de lutas políticas, com as quais temos acordo, não é uma tática nova do imperialismo, aliás, um conjunto de organizações chamaram à atenção sobre os limites de se opor ao governo líbio e a possibilidade de uma intervenção estrangeira. ( fonte: http://www.forte.jor.br/2016/10/19/cinco-anos-depois-caos-leva-libios-sentirem-falta-de-kadhafi/ )

Sobre a cidade de Aleppo há uma intenção, em grande medida cretina, de repetir os mesmos passos dados em Trípoli na Líbia, que era garantir a partir de uma região populosa uma zona de exclusão aérea com a qual a NATO interviria com os seus jatos. Aleppo é uma das mais importantes cidades industriais da Síria e a sua retomada foi saudada após 3 anos nas mãos dos chamados rebeldes moderados em frente única com a AL Qaeda da Síria. Mais que isso, Aleppo também demonstrou uma outra guerra extremamente importante que são as guerras de informações, que foram devidamente rechaçadas por uma grande mobilização de solidariedade internacional entre as forças anti-imperialistas. A verdade é que o povo saudou a libertação da cidade e agora saúdam também o seu processo de reconstrução. Podemos ler isso, inclusive, em um texto do jornalista do "Independent", Robert Fisk, que faz oposição ao governo sírio. (Fonte: http://www.independent.co.uk/voices/aleppo-fHYPERLINK "http://www.independent.co.uk/voices/aleppo-falls-to-syrian-regime-bashar-al-assad-rebels-uk-government-more-than-one-story-robert-fisk-a7471576.html?amp"aHYPERLINK "http://www.independent.co.uk/voices/aleppo-falls-to-syrian-regime-bashar-al-assad-rebels-uk-government-more-than-one-story-robert-fisk-a7471576.html?amp"lls-to-syrian-regime-bashar-al-assad-rebels-uk-government-more-than-one-story-robert-fisk-a7471576.html?amp )

2 - Mais à frente, no parágrafo quatro, temos a seguinte assertiva: "Ao contrário da posição política da maioria da esquerda mundial, como os castro-chavistas (os apoiadores da família Castro de Cuba e da corrente chavista da Venezuela) que saíram em defesa da ditadura de Assad em aliança com Putin; a Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT), a qual o PSTU é filiada, realizou uma campanha internacional contra o matança da população síria e em defesa de Alepo, o que se efetivou em um ato em solidariedade em várias cidades, em dezembro do ano passado, junto com outras organizações."

Sobre esta posição dizemos ao PSTU que é possível sim que apenas eles estejam corretos e "a maioria da esquerda mundial" esteja equivocada, mas não neste caso. Aliás, mesmo com boa vontade, não nos recordamos qual foi a última posição acertada do PSTU sobre algum tema. Os exemplos recentes, como no caso do Brasil, de que não haveria golpe e de que tudo não passava de uma luta entre frações internas da burguesia nacional, revelou-se uma profunda ausência de miolos desta organização. Na defensiva, restou a esquerda no mundo inteiro se apoiar em experiências de luta anti-imperialista, capazes de defender as soberanias nacionais das sanhas de tresloucados da CIA e suas colaterais apoiadoras como é o PSTU.

Exagero nosso? Vamos aos fatos:

A tese de que "Assad (presidente da Síria) tem que sair" foi elaborada como uma troca entre o Rei Saudita e Obama por conta do acerto da política americana com os iranianos acerca do seu programa nuclear. Para dar nova roupagem a política da CIA, em conferência realizada na província de Buenos Aires, o chefe da LIT, Angel Luís Parras, o Cabeças diz: "Dizem que há uma unidade de ação entre os rebeldes e o imperialismo. Mas claro que houve. A mesma unidade de ação que houve no desembarque dos aliados na Normandia e os partisanos contra Mussolini". (fonte: http://www.pstu.org.br/conteudo/ato-dos-30-anos-da-lit-re%C3%BAne-mais-de-800-em-buenos-aires )

Como podemos ver, o tresloucado dirigente além de admitir a aliança com o imperialismo americano, ainda o justifica comparando a situação na Síria ao que aconteceu na segunda guerra mundial. É possível que compare Bashar Al Assad a Mussolinni ou Hitler e, nos seus delírios, ainda julga estar diante de um perigo em proporções mundiais que levaria o mundo ao colapso como foi a terrível guerra em 1939-45.

Alguém duvidaria se, amanhã ou depois, a LIT justificasse uma frente única com os "rebeldes", ao lado do ISIS e da Frente Nusra (Al Qaeda da Síria), comparando esta situação a aliança dos Bolcheviques com os alemães que permitiu o retorno de Lênin a Rússia em 1917 às vésperas da tomada de poder?

Depois da citação feita por Cabeças, nós, não.

Nós dizemos, Assad não é Mussolini, e a Síria não é a Itália fascista, mas sim um país soberano e independente que joga um relevante papel na luta contra os Estados Unidos e as potências ocidentais reforçando o que nós chamamos de Arco da Resistência. (Irã/Síria/Hezbollah)

Dizemos mais. Para o PSTU é necessário aprofundar uma diferença com "os regimes castrista e chavista". Para nós a defesa intransigente da revolução cubana e do processo revolucionário aberto na Venezuela é uma questão de princípio. Nesse sentido afirmamos: Não devemos nos enganar, pois, diante de uma intervenção imperialista em qualquer país latino americano que confronte a nova ordem em curso dos EUA, o PSTU e seus congêneres estarão lado a lado com o intervencionismo ianque. E o pior, ainda chamarão a intervenção de revolução! Ontem foram os irmãos árabes, hoje são alguns irmãos vizinhos e amanhã...?

Mais uma vez especulamos: Seria exagero de nossa parte?

Não duvidaríamos depois de perceber os macabros movimentos que se desenham no nosso continente. (fonte: https://actualidad.rt.com/actualidad/227284-prepara-venezuela-posible-convenio-militar )

3 - Já no parágrafo oitavo temos a seguinte afirmativa dos nossos detratores: "O método da calúnia, da mentira, da difamação, própria de grupos fascistas e dos métodos stalinistas devem ser combatidos no interior do movimento sindical e estudantil, pois geram confusões desonestas e deliberadas que só contribuem para dividir e desmoralizar os trabalhadores."

Há aqui uma insistente e sutil tentativa de reivindicar-se como portadores da palavra do trotskysmo mundial, fazendo uma alusão a política do morenismo como única corrente trotskysta. Isso esconde em si um conjunto de mentiras não apenas teóricas, mas também do ponto de vista da compreensão do desenvolvimento político da esquerda latino-americana nas últimas décadas. O morenismo, e fazemos questão de explicar, é apenas uma das correntes que reivindicam Trotsky e, mesmo assim minoritária, além de ser a corrente que mais contribui no estigma do trotskysmo como corrente não confiável.

Sobre a Síria, 99, 9% das organizações de esquerda que apoiam e pedem armas para o imperialismo (sim amigos/as, o PSTU pede armas ao imperialismo. Fonte: http://www.pstu.org.br/siria-exigir-ou-nao-armas-do-imperialismo/ ) são de origem ou tradição morenista. As demais organizações trotskystas (mandelistas, lambertistas e outras sem variações no trotskysmo) passam longe desta política de colaboração com o império. Para isto, basta-nos olhar as formulações das distintas organizações como, O Trabalho, Causa Operária, MRT, LBI etc. e compará-las com as organizações que assinaram a nota sobre uma suposta "solidariedade" com Aleppo, o que na prática nada mais foi do que solidariedade com a AL Qaeda e os demais filhotes da CIA na Síria. (Fonte: https://pt-br.facebook.com/psturj/posts/554797028052289 )

Estalinismo, PSTU, é arrancar faixas, agredir militantes como na UERJ, intimidar adversários políticos no movimento sindical. Fascismo, PSTU, é retirar entidades de outras centrais sem nenhum debate para filiar a vossa extensão partidária intitulada "Conlutas". Vossa ficha, PSTU, é corrida e nós a conhecemos.

Sobre isso os alertamos: a continuidade destas ações, como arrancar as nossas faixas onde quer que seja, nos obrigará a não respeitar nenhuma manifestação política desta organização e adotaremos a conduta da reciprocidade. Não haverá um próximo aviso!

4 - Já no parágrafo final temos: "Neste sentido, repudiamos o método utilizado pelo coletivo "O Estopim" que oculta, confunde e difama propositadamente a nossa posição política e nos colocamos a disposição para a realização de um debate franco e honesto com os companheiros desta e de qualquer outra organização. Solicitamos também à direção do PSOL Salvador, o qual o grupo pertence atualmente, um posicionamento sobre este lamentável episódio." (Grifo nosso)

Aqui há uma única coisa a saudar diante desta polêmica. Não apenas aceitamos o debate como já encaminharemos a sua convocatória, construída a partir das entidades de luta da classe trabalhadora, para que possamos discutir com clareza, franqueza e riqueza de informações. Desta forma, evitamos "picuinhas" estúpidas de redes sociais, as quais em nada contribuem com a elevação do debate, como infelizmente preferiram fazer os congêneres desta organização. Este tema é caro para nós, assim como deveria ser para o conjunto da esquerda brasileira e não estamos dispostos a permitir o seu achincalhamento.

Ademais, solicitem o que quiserem a direção seja lá de quem for. É um problema de vocês e nada temos com isso. A nossa organização sempre atuou de forma independente, mesmo que parte dos seus membros se organizem partidariamente. Desta feita, a nossa independência continua mantida não havendo possibilidade de "enquadramentos" externos.

- CIA e PSTU apoiam o terrorismo na Síria!

- Fora a intervenção da OTAN na Síria!

- Viva a resistência do povo sírio!

- Viva o Arco da Resistencia (Irã, Síria e Hezbollah)!

- Nenhuma arma do Imperialismo, queremos é derrota-lo!

Salvador, Março de 2017.

Coletivo O Estopim!
 

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